quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Vida de papel

Um dia eu quis ser alguém
não alguém comum
mas um alguém de múltiplas facetas
capaz de lidar com todas as situações
todas as pessoas
todos os sentimentos

queria me mascarar
e fingir gostar de tudo
pra ser aceito
pela plateia popular

nada adiantou
não era quem queria ser
era tudo que outros queriam
e o que eu queria?
eu queria ser alguém
não alguém comum
mas um alguém que gostasse mais de si próprio

um dia, porém
dei conta de tudo
aprendi a ser eu
tirei a máscara pra falar da vida
não busquei prazer em anonimato

e se hoje sou feliz
foi porque ontem fui eu
e somente eu
pra conquistar toda fama e toda glória
de ter amigos que sabem o que eu realmente quero

seja você
não importa o que queiras ganhar
levar títulos pelo que nunca foi
não o torna único
só popular

não tente conquistar amores e amizades
fazendo papéis que não lhe cabem
amizades e amores verdadeiros
sempre se fizeram longe da fantasia

mascarados aqueles que só tem amigos surdos-mudos

quando a popularidade acaba
percebe que tudo foi gozo do presente
e que nada mais lhe será importante
por nunca ter sido o que quis ser
vale a pena ouvir os outros?



não.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Eu e o Mar


Já paraste pra ouvir o que o Mar tem a dizer?
foram muitas conversas
já ri, chorei, gritei e cantei para o mar
e ele, imponente, só me orientava
batendo suas palmas molhadas contra a areia

tamanho era meu fascínio
que nunca lhe faltou respeito
ao cansar de falar
só ficava olhando sua graça

seus movimentos faziam danças
não parava de brincar
apagando tudo que eu escrevia na areia

tentava chutá-lo
mas ele recuava
ria, derrubava-me

mas me olhava com muito respeito também
eu nunca o prejudicara
nem tacara coisas em suas costas
o mar e eu gostávamos de ser um só

do azul ao roxo
o céu ia escurecendo
e eu me despedia do mar
que a tarde toda me fez companhia

'amanhã eu volto', pensava
queria ver sua beleza
saber dos seus segredos
que um dia foram tenebrosos

como pode, meu mar
ser tão temido assim
me respondia discreto
indo e voltando

eterno era o lutador
que passava o dia todo se mexendo
pedindo companhia
eu era um homem livre
uma eterna companhia fulgente

como num belo cristal
me pegava pensando
no quão grande podia ser
meu oceano, seu coração.

domingo, 3 de outubro de 2010

Fruta mordida

Mordi uma fruta
que só tinha caroço
era o pecado
tão puro, tão cheio de mim
que o gosto não era ruim

Eu cuspi
larguei tudo
o sabor nocivo
doce deletério daquele bendito caroço

Mas passou, foi embora
é o pecado que se viu
já sem perdas, sentimentos
no encalço como sombra
pois por mais perdão que se peça
de mesmo pecado viverá amanhã

e depois... e depois... e depois...

Aquela fruta mordida
agora é o embalo da minha fé

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Verdade dói

Ouça
mas ouça direito
eu não falo por meias palavras
nem quero que entenda meias verdades

Na verdade, leia
eu falo mal
a poesia explica melhor

Cansei.
Espero que tenha entendido
pois não vou repetir.

sábado, 21 de agosto de 2010

Solidão criativa

Quando digo que não me entendem
é porque realmente não entendem
dizer que quero ficar sozinho
parece não ser literal

E logo surjem preocupações
remorsos mil
e a solidão momentânea que queria ter
nunca consigo

Sozinho pra me libertar, pra escrever
a pena é o piano do escritor
e eu gosto da solidão
pra escrever sobre aglomeração
sobre tudo junto

Nem sempre se precisa viver
naquele momento
pra falar sobre o momento
então me deixa

Pelo menos um dia
pra que eu fique sozinho com a minha paz
e deixe a minha mente orbitar
por lugares imaginários
que só minha vontade é capaz de criar

Quero escrever, quero falar
mas com o barulho que vem de fora, de dentro, do lado
não dá

Agora sim
fechei porta, janela
E só eu posso me incomodar
assim é mole se expressar.

sábado, 14 de agosto de 2010

Pessoas

Aos amigos da UNIRIO.

Que lugar estranho é esse que me meti
Pessoas eufóricas, doidas
Com seus copos e suas sêdas
É um jeito bom de mostrar
Que a alegria por lá é solta

E por mais que eu houvesse lutado
Contra o vento e eu mesmo
Percebi que a vida perto da praia
E naquele bendito bar de curva
Pode ser tão prazerosa
Que nem mesmo um chute na bunda pode ser ruim
Não que o chute seja bom
Mas há quem diga que é
E isso, só quem vive essa mistura exótica de senseções
Sabe como funciona

O que antes queria distante
Agora quero todos os dias
E o tempo passa curto, calmo
Mas sempre com os sorrisos
Daqueles que não tem medo de esconder
Que tudo se pode nessa vida doida que se leva

São loucos, endiabrados, cachaceiros
E agora sou também, somos juntos
São legais, autênticos e amigos
Já fazem parte de hoje e talvez amanhã
Era um lugar inexplorado
Que agora posso chamar de casa
E muita bola ainda vai rolar, suponho
De copo e beque na mão
Das pessoas que agora são minha inspiração

Sem dúvida não podia ser melhor.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Sonhos e pesadelos

Mas será possível?
O sonho que antes fazia parte
Só do pensamento
Agora já é tão real que
A dor de vivê-lo é nítida

Quero ter os pés no chão
Saber que um dia é normal
Mas descobrir antes desse dia
Certamente é algo fora do comum
Um tanto quanto surreal

Isso é magia negra?
Ou só espiritismo mundano?
Não sei bem, mas o futuro gira
Dentro da minha cabeça
De tal forma que não faço ideia
Se estou acordado ou em sono

O grande fruto proibido desses sonhos
É o pesadelo real que eles revelam
E uma amarga dor de esperar
O que acontecerá pós

É um dom interessante
Viver em mim antes de acontecer
Ruim mesmo é viver
Só os pesadelos de quem nem conheço
E perceber que vai acabar cedo ou tarde
O acontecer de alguém.

sábado, 31 de julho de 2010

Poetize-se

O sentimento maior só se revela
Quando a gente põe pra fora
No meu caso, são histórias
Cronicando o cotidiano
Versificando, às vezes

E a poesia nele é algo fundido
Faz parte, sai como saliva
Quando se menos espera
Aparecem estrofes e estrofes
De conteúdo, não são só palavras

Palavras de efeito, cheias de dor
Amor e humor, mais dor que humor
É um jeito engraçado
Ver a vida com mais dramaturgia
Ainda assim é poesia

Se há ti falta criatividade
Cabeça adolsecente tem de sobra
Musicalidade refinada
Nas palavras do autor
Que como muitos loucos custa ser entendido

Mas eu entendo, juro que entendo
Por mais poético doido que seja
Sua poesia fala por si só
Não como escrita, mas como amizade solta
Sem caneta, nem papel
Mas escrita, sim, escrita muito
Na vida, no traçado de caminhos

Está aí a razão
A poética da amizade.

Ao meu amigo, Tony Espósito.

Presente pra Roza

Ainda que eu quisesse te dizer
Não ia ter nem como explicar
Tudo que eu não seria sem você
A dor que tua saudade vai deixar

Depois de muito tempo posso ver
Ausências são a força pra lutar
Contigo do meu lado pra me defender
Nada vai mudar

Por tudo que você me fez sorrir
E eu nunca fiz questão de escutar
Um dia a recompensa há de vir
Um presente pra Roza no amanhã

Pelos muitos segredos que escondi
Pela flora de risos a brotar
Com carinho eu canto pra ouvir
E isso é pra nunca duvidar

Te amo, Roza
Roza meiga e charmosa
Te amo, Roza!

Você é quase meu bem

Tudo que eu queria mesmo era
Encostar-me ao céu pra ver o mar
O que eu queria era poder dizer que te amo
Mas eu não sei quem tu és

Tudo que a vida pode dar
É o proveito que se tira de viver
Esse pra sempre não existe
É fato enrolado e eu te pago pra ver

Mas se isso pode ser assim
Não existe aquela história de não ser
Deixe o coração levar-te ao vento
E encare de vez

Pare de ligar choroso e me diga
Que o teu amor é aquilo que é
Verdade é o que se espera
Dessa maldita tentação do prazer

E agora que acordo dessa rotina
Aguardo a mais bela e doce mulher
Que o 'te amo' seja fato marcado no peito
O que era pra ser

E que não me faltem juras de amor
Só pra ti, meu bem, que sabe quem é
O meu coração colado ao teu
De um jeito ou de dois...

Sombra

Sorrateiro no descompasso
Na parede
No chão

Sempre grudada como quem quer um abraço
Um braço
A vontade contínua que nunca aparece
O preto em único ponto no clarão

Não se cheira
Não se toca
Só se vê
E a visão só vê aquelha silhueta
Que repete os passos de quem a controla, em vão

Banco de Praça

No banco da praça não tem frescura
Senta branco, negro, pobre, rico, casal, solteiro
Deita viúvo, bêbado e mendigo
Banco de praça é o pedestal cotidiano

Banquinho cheio de ódios, amores, histórias e músicas
Violeiros de plantão, Ah, musicalidade!
Velhos quietos que pra pombo dão milho
Velhos gaiatos que pra rabo de saia dão olho

Do banco se vê tudo, se vê todos
Passam diferentes, iguais, vagabundos
Tudo pode acontecer perto de quem recosta
Debaixo da árvore, no canto do jardim
É espaço pra tudo, feito pra sentar, pra quem não quer nada

De fato, tudo se passa
No bendito banco de praça

As últimas cartadas

E agora jogador?

Todos prontos pra bater
Última rodada
Dê a sua cartada
Ou você perderá

Não exite
Apenas jogue
Os números estão ao seu favor

Pense em tudo que pensam
As jogadas que fariam
Sinta-se as cartas
Sinta-se o adversário
O oposto da mesa sobre você
Última chance de cartear a sorte

Dá tempo, compra mais uma
E trame uma nova estratégia

Único problema é acertar,
Mas jogar é preciso, está ficando tarde...

Já quando não perceber
Ou nem tiver mais vontade
Gire sua cadeira e saia
O jogo simplesmente acabou.